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Apetite e tolerância a riscos: Quando a gula é maior que o estômago

Apetite e tolerância a riscos: Quando a gula é maior que o estômago

Qualquer organização tem um certo apetite e tolerância a riscos. Veja o exemplo abaixo.

Você já trabalhou numa organização que toma decisões que expõe (excessivamente) você e ela mesma a riscos? Se isto já aconteceu, é provável que você ficou incomodado. Também é provável que, em sua opinião, estes riscos eram maiores que capacidade da organização em gerenciá-los.

Sabemos que nenhuma organização (privada, pública ou do terceiro setor) vai atingir seus objetivos sem correr riscos. A questão levantada pelo exemplo acima é quanto risco tomar?

Ou seja, as organizações podem se exporem demasiadamente aos riscos visando potenciais ganhos. O problema é quando as coisas dão errado e elas arcam com os riscos sem nenhum ganho significativo.

Podemos analisar estas situações através dos conceitos de Universo de riscos, Tolerância a riscos e, principalmente, Apetite a riscos.

Riscos – Universo, tolerância e apetite

Universo de riscos são todos os riscos (ameaças e oportunidades) ao qual uma organização está exposta.

Tolerância a riscos é o limite de riscos ao qual uma organização tolera estar exposta. Também pode ser entendida como a capacidade limite da organização para lidar com os riscos.

Dois exemplos disso são.

  • Uma empresa não irá se expor a perdas maiores do que X% do seu capital numa determinada linha de negócio.
  • Outra empresa não negociará com determinados tipos de cliente. Maus pagadores contumazes ou clientes com sede em países com questões sociopolíticas delicadas, por exemplo.

Apetite a riscos é o quanto uma organização quer se expor a riscos.

O Institute of Risk Management (IRM) define o apetite a riscos como o limite entre “figth or flight“.

Vou explicar. A maioria dos animais, incluindo os seres humanos, responde com “luta ou fuga” (“fight or flight”) a riscos. O IRM define o apetite a riscos como a versão organizacional deste mecanismo dos seres vivos. A organização “lutará” com alguns riscos, até o limite do apetite dela. A partir deste limite ela “fugirá”dos riscos.

Apetite e tolerância a riscos são estratégicos

O bom senso indica que o apetite ao risco deve ser menor que a tolerância ao risco. Por outro lado, bom senso nem sempre prevalece (rsrsrs). Veja o exemplo do início deste post, a empresa “onde você trabalhou”.

Outro exemplo. Você conhece uma empresa de dois sócios onde um é o visionário e outro é o controlador. Você notou que quando o visionário é a voz efetivamente dominante, a empresa se expõe a riscos significativos com maior frequência?

Por outro lado, um apetite a risco muito baixo pode paralisar a organização. Voltando ao exemplo da empresa de dois sócios, isto acontece quando a voz efetivamente dominante é a do controlador.

Já convivi com empresas nos dois extremos. Uma se expôs demasiadamente a riscos (apetite muito maior que tolerância) com consequências devastadoras. Outra perdeu oportunidades de negócio devido ao apetite extremamente baixo.

Os limites do apetite e da tolerância a riscos de uma organização são definições de importância estratégica. Eles devem ser definidos pela sua direção ou conselho administrativo.

Consequentemente para uma organização como um todo trabalhar com os conceitos de apetite e tolerância a risco, ela já deve possuir certa maturidade em gerenciamento de risco a ponto de entender os aspectos estratégicos deste assunto.

Assim, apetite e tolerância a riscos são de especial importância para organizações com acionistas ou partes interessadas. Se você é o único proprietário de uma empresa com poucas partes interessadas e quiser fazer apostas você tem duas opções:

  • Viajar para o exterior e ir a um cassino;
  • Esquecer que apetite e tolerância a risco existem (rsrsrs).

Aonde chegamos?

Agora que você conhece os conceitos de apetite e tolerância ao risco, eu pergunto: Quantas vezes você viveu ou presenciou situações onde o apetite a riscos foi maior que a tolerância? Algumas ou muitas?

Assim, entender estes conceitos  permite que você os traga para o dia a dia da gestão, independente das ações da organização. Saber quando o apetite está maior que a tolerância ou o inverso (quando o apetite está muito pequeno) permitirá que você atue neste problema e que seja um gestor melhor.

Lembre-se que apetite e tolerância a riscos fazem parte do dia a dia do gerenciamento de riscos em todas as atividades. Qual é o apetite e a tolerância a riscos de um mergulhador que faz serviços de manutenção no mar?

Uma última coisa, atente que os riscos e quase tudo associado a eles é dinâmico, ou seja, os limites de apetite e tolerância de uma organização hoje podem não ser os de amanhã. Eles se alterem ao longo do tempo.

Caso queira entender um pouco mais sobre como os riscos mudam ao longo do tempo leia o postAmeaças e oportunidades – Duas irmãs em eterno conflito“. Neste post eu falo, entre outras coisas, como uma ameaça pode ser tornar uma oportunidade e vice-versa.

Alexandro Avila de Moura
Engenheiro Mecânico graduado na UFRGS. Especialização em Gestão Estratégica (USP) e Gerenciamento de Projetos (Pitágoras). Mestrado em Administração incompleto (PUC MG). Experiência de mais de 25 anos no setor de mineração, especificamente nas áreas de gestão de operação, manutenção e desenvolvimento de projetos, liderando grandes equipes. Certificado como PMP (Project Management Professional) pelo PMI (Project Management Institute). Número PMP 182 8522. Experiência também nas áreas de segurança e saúde ocupacional, meio ambiente e relacionamento com comunidades e na área financeira.

1 pensamento em “Apetite e tolerância a riscos: Quando a gula é maior que o estômago

  1. claudia Simões disse:

    Muito bom.

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