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Ameaças e oportunidades – Duas irmãs em eterno conflito

Ameaças e oportunidades – Duas irmãs em eterno conflito

Os riscos podem ser classificados em ameaças e oportunidades em função do impacto que podem causar, negativo e positivo respectivamente.

Primeiro vamos relembrar o que é risco.

Risco é todo o evento que pode ou não ocorrer, ou seja, todo o evento ao qual estão associadas incertezas. Estas podem ser avaliadas em termos de probabilidade de ocorrência. Caso o evento ocorra, ele impactará a atividade em curso. Este impacto pode ser pequeno ou grande. Além disso, ele pode ser positivo ou negativo para a atividade em curso.

Os riscos podem surgir a partir de características próprias das atividades. Por exemplo: Os riscos inerentes à operação de uma usina nuclear. Eles também podem surgir de características do ambiente onde ocorre a atividade. Por exemplo: Os riscos para um projeto de mineração localizado num pais com instabilidades sociopolíticas.

O que é ameaça?

Ameaça ou risco negativo é aquele risco que, caso ocorra, causará impactos negativos a atividade.

Um exemplo de ameaça para uma empresa é o risco de que um dos seus executivos se envolva num caso de suborno com alguém da agência reguladora do setor de atuação da empresa.

É grande a relevância desta ameaça, tanto que o Institute of Risk Management (IRM) em 2016 publicou o Bribery Risk Guide (Guia sobre Risco de Suborno, em tradução livre) e diversas empresas tem rigorosas politicas anti-suborno.

Aliás, no site do IRM está disponível uma série de outros guias relativos a diversos tipos de risco, por exemplo: cyber attack, cultura, trabalho escravo e outros.

O que é oportunidade?

Oportunidade ou risco positivo é aquele risco que causará impactos positivos a atividade.

Um exemplo de oportunidade para uma empresa é risco de alteração de uma lei que, quando comparada à legislação atual, trará benefícios ao setor onde ela atua.

Quantas vezes ouvimos ou lemos nos meios de comunicação sobre isto, alterações na legislação que podem beneficiar um setor de atividades ou uma empresa?

No exemplo de oportunidade as palavras “risco” e “benefícios” parecem não combinar bem na mesma frase. Isto reforça algo que eu e vários gestores que conheço observaram ao longo da vida profissional: É mais fácil, ou mais espontâneo, identificarmos ameaças que as oportunidades.

Duas irmãs em eterno conflito

Uma ameaça pode se tornar uma oportunidade e vice-versa. Assim, elas são duas irmãs em eterno conflito, as quais “mudam de lado” na medida que:

  1. Um risco pode ser ameaça para uma empresa e oportunidade para um concorrente.
  2. Um risco pode ser ameaça num momento e oportunidade em outro para uma mesma organização.
  3. Um risco pode se transformar de ameaça em oportunidade para uma empresa e fazer o movimento contrário para um concorrente.

Vamos dar uma olhada nos nossos exemplo.

1º Exemplo – A ameaça para um é a oportunidade para outro

Você é o gerente de manutenção de uma indústria, ou seja, você é o responsável pela manutenção dos equipamentos da linha de produção.

A maioria destes equipamentos usa sobressalentes importados. É a empresa onde você trabalha que faz a importação. No momento da compra destes sobressalentes, sempre há duvidas quanto ao cumprimento do prazo de entrega, em função das incertezas quanto ao prazo de liberação das importações pela Receita Federal.

Você leitor já viveu isto? O equipamento em vias de parar e o sobressalente parado na Receita Federal?

  • Recentemente se instalou no Brasil um novo fornecedor para os mesmos sobressalentes que você importa.
  • Este fornecedor não é o mesmo de quem habitualmente você importa.
  • O novo fornecedor fabricará os sobressalentes no Brasil. Será que eles terão o padrão de qualidade que você necessita?
  • A vinda dele para o Brasil é uma oportunidade para você, pois você poderá adquirir os sobressalentes que usa sem as incertezas associadas a liberação pela Receita Federal.
  • O mesmo fato é uma ameaça para o seu fornecedor habitual, pois você pode deixar de adquirir os sobressalentes dele.
  • A ameaça e a oportunidade deixarão de serem riscos para se tornarem fatos se o padrão de qualidade do novo fornecedor atender suas demandas.

Assim, um fato (fornecedor novo vindo para o Brasil) criou oportunidade para uns (empresa em que você trabalha) e ameaça para outros (fornecedor habitual).

2º Exemplo – A ameaça de hoje pode ser a oportunidade de amanhã

Agora, você é o gerente de operação de uma unidade industrial instalada no interior do país.

Existe uma demanda da comunidade por contratação de trabalhadores locais. Existem compromissos legais relativos a isto, na forma de condicionantes da licença de operação. Porém os trabalhadores locais tem qualificação aquém do mínimo necessário e nesta comunidade não existe nenhuma escola profissionalizante operando. A escola local foi desativada há cinco anos.

Além disso, em função do momento de crise, você não tem recursos para investir na capacitação dos trabalhadores locais. Para manter os níveis de produção demandados você está usando muitos trabalhadores não locais.

  • Existe a ameaça da empresa sofrer alguma sanção legal pelo não cumprimento da condicionante de trabalhadores locais.
  • Um fato novo acontece, um projeto antigo da administração pública será efetivamente posto em prática. A escola profissionalizante será reativada em alguns meses.
  • Tão logo você sabe desta novidade entra em contato com a administração pública. Negocia com eles um planejamento para que trabalhadores locais sejam treinados e você consiga cumprir a condicionante.

Aqui, a ameaça de sanções legais contra e empresa transformou-se em oportunidade de cumprimento da condicionante de trabalhadores locais. Esta alteração ocorreu em função da reativação da escola profissionalizante.

3º Exemplo – Ameaças e oportunidades entre concorrentes

Neste exemplo temos a empresa brasileira XYZ, onde você trabalha, produz um determinado bem de consumo para o mercado interno e exportação. (Não atentem ao nome pouco criativo da empresa, por favor. rsrsrs) Você é o responsável pelas vendas internacionais.

Um dos países, para onde você mais vende, tem taxas de importação excessivamente baixas. Neste mesmo país, os padrões de qualidade dos produtos da XYZ e da concorrência local são semelhantes. As taxas de importação baixas representam uma oportunidade para a XYZ. O preço final dos produtos dela é bastante competitivo.

Esta mesma situação é uma ameaça para os concorrentes locais. Eles têm que compartilhar o mercado local com a XYZ.

  • Porém uma mudança significativa no contexto começa a se desenhar. No país, se inicia uma discussão sobre alterações na legislação com elevação das taxas de importação.
  • Existe o risco de, com a aprovação destas novas leis, ocorrer um aumento significativo nas taxas de importação.
  • Este risco é uma ameaça para a XYZ, pois aumentaria o preço final do seu produto naquele país. Ou reduziria sua margem de lucro, se ela decidisse compensar o aumento das taxas com redução de preço.
  • O mesmo risco é uma oportunidade para os concorrentes locais, pois estariam em melhores condições de concorrer com a XYZ.

Neste último exemplo, uma potencial mudança (elevação das taxas de importação) altera uma situação de oportunidade para a XYZ para uma potencial ameaça. O movimento contrário ocorre com os fornecedores locais. O que era ameaça pode virar oportunidade.

Você leitor, pode pensar num primeiro momento o quanto os exemplos parecem ser simples. Independente disso, a questão central aqui é o fato de que muitas empresas e gestores não tratam estas situações como riscos para suas operações. Assim, ao não gerenciar as ameaças e oportunidades, a empresa e seus gestores certamente incorrem em despesas desnecessárias ou perdem oportunidades de elevar seu lucro.

Riscos associados à stakeholders externos

Nos três exemplos acima as alterações de ameaça para oportunidade, ou vice-versa, ocorreram devido a fatores externos a empresa. Acredito que a maioria destas mudanças ocorra mesmo em função de fatores externos. Em outras palavras, devido ação ou (re)posicionamento de stakeholders externos.

Reforça esta hipótese o fato de que a atividade em si, por ser gerenciada pela organização, está sob um nível de gestão que pode minimizar a possibilidade desta “inversão”.

Atentem que stakeholder ou partes interessadas externas poder ser: fornecedores, clientes, concorrentes, agencias reguladoras, poder público nos seus diversos níveis, organizações não governamentais (ONG’s), comunidade onde a organização está localizada e outros.

Ameaças e oportunidades e os modelos de gerenciamento de risco

Alguns modelos de gerenciamento de risco utilizam conceito de ameaças e oportunidades, mas outros usam somente o de ameaças.

O Project Management Institute e a ABNT utilizam o conceito de ameaças e oportunidades nos seus modelos de gerenciamento de risco. Como a ABNT NBR 31.000 (Gestão de Riscos – Princípios e Diretrizes) é a versão brasileira da ISO 31.000, podemos afirmar que o International Standard Organization também utiliza ambos os conceitos. Sobre PMI e ABNT você pode ler mais no postGerenciamento de risco – Um Início de conversa“. Já a Society for Risk Analysis  (SRA) consideram somente ameaças.

Concluindo esta segunda conversa sobre gestão de riscos, destaco os principais tópicos deste post:

  • Riscos podem ter impacto negativo (ameaças) ou positivos (oportunidades).
  • Ameaças podem ser tornar oportunidades e vice-versa, especialmente se relacionadas a como um stakeholder externo se posiciona em relação a organização.
  • Ameaça para uma empresa pode ser oportunidade para o concorrente.

Todo o diretor, gerente e supervisor terá de atuar no gerenciamento de risco em algum momento do seu trabalho. Entender claramente o que são ameaças e oportunidades e as relações entre elas, o objetivo deste post, dará melhores condições a este gestor tirar o melhor proveito deste processo.

Para finalizar, uma última pergunta: Você já pensou em quais são os riscos da sua operação? Como fazer para identificá-los? Isto será o assunto do nosso próximo post.

Alexandro Avila de Moura
Engenheiro Mecânico graduado na UFRGS. Especialização em Gestão Estratégica (USP) e Gerenciamento de Projetos (Pitágoras). Mestrado em Administração incompleto (PUC MG). Experiência de mais de 25 anos no setor de mineração, especificamente nas áreas de gestão de operação, manutenção e desenvolvimento de projetos, liderando grandes equipes. Certificado como PMP (Project Management Professional) pelo PMI (Project Management Institute). Número PMP 182 8522. Experiência também nas áreas de segurança e saúde ocupacional, meio ambiente e relacionamento com comunidades e na área financeira.

2 pensamentos em “Ameaças e oportunidades – Duas irmãs em eterno conflito

  1. Nercy Grabellos disse:

    Muito bom! Muitas vezes, esses detalhes que riscos também podem reverter-se em oportunidades e vice-versa, passam despercebidos.

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