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Você já esteve no meio da tormenta que é uma manutenção corretiva?

Você já esteve no meio da tormenta que é uma manutenção corretiva?

Quantos de nós já tivemos de lidar com uma manutenção corretiva complicada justo quando precisávamos produzir? Como lidar com isto? É sobre isto que este post fala.

Você é o gerente responsável por uma unidade industrial no interior do país e responde ao diretor da empresa. Seus subordinados diretos são supervisores, experientes e confiáveis.

Era noite quando te telefonaram da sala de controle da planta, que era como o pessoal se referia à unidade industrial. Falaram que ela estava toda parada. Há cerca de 30 minutos atrás houvera uma falha no fornecimento de energia elétrica, em parte da unidade, e depois disso ela não voltou a operar. Até aquele momento não havia previsão para o retorno da produção, pois o pessoal ainda estava tentando entender o que houve. Tudo indicava que foi algo grave.

Ainda no telefone você perguntou se a equipe de turno estava bem. Ou se havia alguém ferido. O operador de sala de controle falou que até onde sabia todo mundo estava bem. Eram cerca de 30 as pessoas de operação e manutenção que trabalhavam no turno da noite.

Você desligou o telefone e refletiu: Cumprir a produção neste final de ano é a meta mais importante da unidade e uma das metas mais importante da empresa. Neste momento, uma parada não programada era algo, pelo menos, muito inconveniente. Dependendo da gravidade do problema e da duração da parada a meta de produção pode ser comprometida.

1º. O foco é resolver o problema rapidamente e com segurança

Você decidiu ir até a unidade e acompanhar o problema pessoalmente. A prioridade era colocar a planta para produzir em segurança o mais rápido possível. Você precisava manter o foco da sua equipe nisso.

Pegou o carro e dirigiu pela estrada escura e não pavimentada que ligava a pequena cidade onde morava à planta.

Fazia pouco mais de um ano que você havia aceitado esta posição. A remuneração era boa e se você tivesse sucesso, isto impulsionaria sua carreira. Neste ano você tivera de exumar uma série de esqueletos que seu antecessor deixara. Você queria dar mais consistência e robustez a operação. E agora isto…

Parou de divagar quando viu as luzes da planta a frente na estrada. Riu para si mesmo quando pensou que, além de sua equipe, você mesmo precisava manter o foco em colocar a planta para produzir rápido e com segurança.

Quando chegou à planta, passou na sua sala e pegou capacete, óculos de segurança e outros equipamentos de proteção individual (EPI’s). Na sequência foi direto para a sala de controle.

2º. Colete informações e monte o quebra-cabeça

A planta era composta de dois grandes pavilhões, os prédios A e B, com cerca de cinco andares de altura cada. Eles eram interligados por dois transportadores de correia, denominados 1 e 2, dispostos em sequência. Entre os transportadores havia uma casa de transferência convencional.

A planta era um projeto antigo. A sala de controle fica no alto do primeiro pavilhão, junto a uma das paredes. O acesso era feito por escadas. As paredes da sala eram todas envidraçadas, assim se podia ver toda a operação do prédio A. Obviamente o projeto original era antigo e anterior aos circuitos fechados de televisão (CFTV’s) e o onipresente wi-fi, apesar de atualmente a sala e a planta já possuírem estes recursos.

Na sala de controle, você cumprimentou operador e perguntou na sequência:

XXX– Você já tem mais informações do que ocorreu?

XXX– Sim. Tudo indica que a  falha no fornecimento de energia elétrica causou uma outra falha no sistema de controle dos transportadores de correia. O transportador 2 parou de imediato, mas o 1 rodou alguns bons segundos. Isto fez com que a casa de transferência ficasse cheia de material. Ela está praticamente soterrada.

XXX– Ruim… – Depois de alguns segundos refletindo você perguntou. – Algum ferido?

XXX– Não. Desde que conversamos por telefone ninguém me comunicou nada sobre acidentes.

XXX– Tivemos sorte então… Já temos alguma previsão de quando a planta volta a rodar?

XXX– O pessoal de manutenção terá de remover o material da casa de transferência e depois verificar se houve alguma avaria aos equipamentos dela. Me falaram em até três dias para colocar a planta para rodar de novo.

XXX– Será uma manutenção corretiva longa… – Ruim para a produção, pensou. – Alguém está na área, além da equipe de turno?

XXX– Três supervisores já chegaram. Antônio, José Carlos e Lourdes. O Luís ligou e falou que está vindo também. Avisei eles um pouco antes de te telefonar.

Antônio, José Carlos e Luís eram respectivamente os supervisores de operação, manutenção (tanto mecânica quanto elétrica) e suprimentos. Lourdes era a supervisora de segurança, saúde e meio ambiente (SSMA).

XXX– Ainda bem que você os avisou. Será uma noite longa até fazermos esta manutenção corretiva engrenar. Vou lá na casa de transferência para ver o problema de perto. Qualquer novidade você me chama no celular, ok?

XXX– Sim, senhor.

3º. Seja realista nos prazos de uma manutenção corretiva

Você saiu da sala de controle e começou a descer as escadas. Parou no meio do caminho pegou o celular e ligou para o Heitor, diretor da empresa e seu chefe. Era uma situação potencialmente grave, pois poderia comprometer a produção do ano. Você queria compartilhar isto com ele de imediato. Ele não ia gostar de ser acordado no meio da noite com uma notícia dessas (rsrsrs). É a vida…

XXX– Alô. Heitor? – Você falou tão logo ele atendeu.

XXX– É você? – Ele reconheceu sua voz. – Para você me ligar no meio da noite deve ser algum problema grave – falou ele num misto de preocupação e ironia.

Você descreveu o que havia ocorrido. Após uns instantes em silêncio, ele falou:

XXX– Algum ferido?

XXX– Não.

XXX– Ainda bem – ele desabafou. Depois de mais alguns segundos, ele falou:

XXX– Temos que cumprir o programa de produção no ano. Quanto tempo esta manutenção corretiva vai demorar?

Seu primeiro impulso foi ser otimista e dar um prazo menor do que os três dias. Várias vezes você questionou os prazos que sua equipe te informava. Você frequentemente achava que eles podiam fazer mais rápido. Na verdade houve umas três ou quatro vezes em que você mostrou isto a eles.

Você pensou um pouco e optou por ser realista.

XXX– A primeira previsão que temos é de três dias.

Você ouviu alguns suspiros do diretor presidente. Esperou um pouco e então falou novamente:

XXX– Eu e a equipe precisamos avaliar melhor a extensão dos danos para poder ter uma previsão mais realista. Gostaria de poder falar num prazo mais curto, mas agora seria apenas um palpite da minha parte. Te liguei especificamente para falar que a planta está parada. Daqui a duas horas te ligo de novo, com mais informações e, se possível, uma previsão mais realista. Ok?

Você ouviu outro suspiro dele e então ele falou:

XXX– Ok. Ficamos em contato. Precisando de algo aí, me liga. Estou preocupado com a produção.

XXX– Eu também estou. Te ligo em duas horas.

4º. Procure resolver os problemas e não procure culpados

Quando você chegou à casa de transferência, percebeu o quanto ela estava soterrada, apesar de ser noite e a iluminação na área ser relativamente pouca.

A casa de transferência era uma estrutura de cerca de dois andares de altura. O transportador 1 chegava na altura do segundo andar e descarregava o material transportador 2 que estava na altura do primeiro andar. Entre a descarga do transportador 1 e a área de carga do transportador 2 havia o “chute”, uma estrutura em forma de caixa, sem tampa e sem fundo, por onde o material passava.

A casa de transferência não tinha paredes, só vigas e colunas, assim era possível ver a pilha de material que se formou a partir da descarga do transportador 2, cobrindo todo o chute e o início do transportador 2 e saindo dos limites da própria casa.

Remover todo este material daria muito trabalho.

Os quatro supervisores (Antônio, José Carlos, Lourdes e Luís, que já havia chegado) e cerca de 10 operadores de turno estavam parados próximos à casa de transferência, inspecionando os estragos.

Na medida em que você se aproximou, percebeu que Antônio, da operação, e José Carlos, da manutenção, estavam discutindo.

XXX– Olha a quantidade de material que teremos de remover da casa de transferência e ainda não sabemos que avarias estão escondidas embaixo deste material! Isto tudo foi causado por um problema que você e sua equipe deveriam ter evitado – falou Antônio.

XXX– Estamos checando o que ocorreu e mobilizando pessoal e equipamentos para a limpeza – falou José Carlos.

XXX– “Checando o que ocorreu”! Vocês deviam era ter evitado o problema e esta perda de produção! Maldita manutenção corretiva – falou Antônio, nitidamente culpando José Carlos e a equipe de manutenção pelo ocorrido.

Você olhou para Lourdes, do SSMA, e Luís, de Suprimentos, que assistiam aquela discussão. Ambos lhe devolveram um olhar com uma expressão óbvia de desconforto com a cena. A reação de parte dos operadores era a mesma.

Aquela discussão em nada ajudava naquele momento. A prioridade era fazer os consertos necessários e colocar a planta para rodar. Responsabilidades, e não culpas, seriam avaliadas posteriormente, com equilíbrio e fora do calor do momento.

Você precisa acabar com aquela discussão rapidamente. Aproximou-se dos dois e falou, sem gritar, mas de maneira firme:

XXX– Antônio e Zé, esta discussão tem que acabar agora.

Tentou não fazer uma cara feia, mais provavelmente estava de “carão”, nome dado por sua esposa a expressão que você fazia quando estava contrariado (rsrsrs). Aparentemente o “carão” ajudou, pois ambos pararam a discussão e olharam para você, que então falou:

XXX– Pessoal, não estamos aqui procurando culpados. Estamos aqui para fazer a manutenção corretiva e colocar a planta para rodar, rapidamente e com segurança. Depois disso vamos avaliar a causa da parada e para tomar ações para que este problema não se repita. Avaliaremos também, com equilíbrio e se for o caso, as responsabilidades.

Você continuou a falar:

XXX– Neste momento todos nós precisamos trabalhar juntos para resolver o problema de maneira rápida e com segurança, ok? – deu um pequeno sorriso ao final da fala.

Todos assentiram.

5º. Você é o capitão de um navio no meio de uma tormenta

Agora que a discussão acabara e que você tinha atenção dos supervisores, vocês poderiam conversar sobre como efetivamente lidar com aquele problema.

Por um instante você  olhou de novo para a casa de transferência soterrada e para o tamanho do desafio que vocês tinham pela frente. Você então se lembrou de um livro de Joseph Conrad, que lera há alguns anos, sobre o capitão de um navio no meio da tormenta.

Manutenção corretiva - Mais 5 dicas do que fazer

Joseph Conrad, nome de batismo Józef Teodor Nałęcz Korzeniowski (1857 – 1924) foi um escritor britânico de origem polonesa. Muitas de suas obras centram-se em marinheiros e no mar.

Tal como acontecera com o capitão do livro e sua tripulação, suas orientações para a equipe ajudariam a ela passar pela tormenta que era esta casa de transferência soterrada.

Você sabia que teria de reforçar para sua equipe, durante os trabalhos, várias das coisas que falara até agora. Você também sabia que teria de ouvir atentamente sua equipe.

Chegamos ao final deste post, mas esta história não termina aqui. Na próxima semana vou publicar a continuação desta história contando mais sobre o que aconteceu nesta manutenção corretiva. Nos encontramos lá.

TO BE CONTINUED.

 

Alexandro Avila de Moura
Engenheiro Mecânico graduado na UFRGS. Especialização em Gestão Estratégica (USP) e Gerenciamento de Projetos (Pitágoras). Mestrado em Administração incompleto (PUC MG). Experiência de mais de 25 anos no setor de mineração, especificamente nas áreas de gestão de operação, manutenção e desenvolvimento de projetos, liderando grandes equipes. Certificado como PMP (Project Management Professional) pelo PMI (Project Management Institute). Número PMP 182 8522. Experiência também nas áreas de segurança e saúde ocupacional, meio ambiente e relacionamento com comunidades e na área financeira.

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